sábado, 29 de janeiro de 2011

Explosões

A música pára .
Eu , ávida e serena no mesmo instinto
De correr o incerto e de divagar no sentimento ,
Procurei dentro de mim os objectivos de vida mais felizes .
Acordando para a realidade
Toquei no seio das minhas raízes
De sonhos , de metas e de tudo mais .
Vi que tinha mais do que momentos especiais
E que tinha menos que amigos para toda a vida .
Era a razão de todos os afectos pretendidos ,
De todos os caminhos com saída de emergência
Deleitados por uma menina que em tamanha adolescência
Se via num traço roto de solidão e de violência .
Saí desse caos nocturno feito de ilhas
Desertas , afundadas pelos maus dos oceanos nada pacíficos .
Peguei nas minhas pernas e coloquei.me a milhas .
Desses pesadelos que eram tudo menos objectivos humanos .
Seguindo de instinto e de afirmação ,
Fiz mais do que o próprio coração mandava ,
Chamando pela alma tão docemente consagrada ,
Pelos deuses fugazes e ao mesmo tempo tristes
Que se punham a declarar poemas para mim .
Digeria cada palavra como sendo um bafo de vapor gélido ,
Dissecado pelo frio das noites de outono ,
Infringido pela lei de não ser amada
Pelas coisas ao qual ainda hoje me questiono .
Fiz das solidões constantes a minha poesia .
Coloquei.me face a esse alicerce de amor
Que me arrancava de euforia e satisfação .
Onde se salientava tamanha a diversão
De me ver só e triste no mesmo vapor condensado .
Criei sonhos a mais , e realizações a menos ,
Mas vi que era normal ,
Pois quando somos pequenos
Tudo nos passa na ideia de sermos grandes ou gigantescos .
Deixei.me de depressões , de poemas grotescos
E inspirei.me em tumultuosos textos
De amor e perdição por ti e por seus afins .
Hoje , não só hoje , porque só agora manifesto
A ausência que em mim se manifestava e que me alegrava ,
Em que eu nem protestava ,
Porque sua companhia era o meu alento .
Mas quando a canção tocou
O vidro trespassou
Todo o caos da minha vida ancorado ,
Pelo fascínio de viver a vida
Sem pensar que afinal já tinha amado .
Pus.me de parte nesse lema negativo
E vi , que quem era realmente meu amigo
Era mais que esse degredo de jazigo ,
Chamado amor de alma e de forte abrigo .
Amor é mais do que isso .
Trespassa qualquer corpo e qualquer alma ,
Passa do espírito para a vida ,
Traz em torno da lua a cor mais colorida .
E quando a música soa no refrão
Lembrei.me então de escrever a vós ,
Coração ,
Que de tanto já me salvou 
De tanta guerra honesta e encruzilhada ,
Pela vitória que para os outros não serviria de nada .
Valquíria sou eu , guerreira do meu lar ,
E escrevo.te hoje , deste meu doce jeito ,
Sem negar ,
Que sou imperfeita na perfeição de conseguir conquistar
Nesse teu mundo que num dia ,
À força , me tentou aprisionar
De uma vida que mais tarde posso vir a amar .
E se quem corre nesse céu mais triste sou eu ,
Que venham palavras ou meros textos comentar
Sobre esta pobre vida que assim cresceu ,
Que jamais esta alma podem roubar .
Não importa quem seja o célebre conquistador ,
Nesta alma só tenho é trabalho , pensamentos e amor .
E se a batalha acabou e eu continuo por aqui ,
É porque sou forte e levo a vida até ao fim .


sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Poderia

Poderia escrever calmamente um conjunto de vontades reflectido em meia dúzia de palavras .
Seria fácil compreenderes o que tento fazer a cada momento que passas por mim com um olhar longe , junto ao horizonte .
Aquele olhar dominante , incrivelmente autoritário e sensível , que me faz esquecer que sempre exististe .
Poderia escrever o teu nome na areia daquela praia , reescrevendo ao passar de cada onda .
O sol daria.lhe a cor que falta , e que eu própria me havia de ter esquecido de acrescentar .
Poderia sonhar contigo sentada nessa mesma areia , numa noite longa e agradável contando as estrelas que guardavam cada desejo nosso .
Os mesmos desejos que te contaria , vezes sem conta , junto ao ouvido em sentido de provocação .
Poderia raptar.te do teu mundo e levar.te para bem longe .
Levar.te ao topo do mundo , ao fim de cada estrada , ao desconhecido por nós até no pensamento .
Ao espaço de ninguém que tomaria.mos como nosso , escrevendo o nosso nome entre linhas numa placa bem visível .
Poderia partilhar que existias , gritar bem alto o teu nome para que os novos vizinhos soubessem que existia tal beleza .
Poderia , bem junto ao infinito , acender uma vela e piscar o olho entre a restante escuridão .
Enganar o medo e viver de olhos fechados , sentindo somente o teu toque , ouvindo a tua voz como se estivesses dentro de mim .
Apagar o coração de velas que te rodeava e ficar a olhar para o luar que insistia em te iluminar .
Poderia esquecer tudo .
Esquecer o que já não importa , e lembrar quem tu és .
Lembrar do que fazes , do que insistes em marcar e da importância que tu não esqueces em fazer .
Poderia até lembrar.me unicamente do sorriso que fazes sempre que eu não digo nada de jeito , ou da palavra que dizes sempre cada vez que fico calada .
Poder , poderia .
Poderia fazer a felicidade em gestos que eu , tu ou nós ligaríamos a um sorriso .
Poderia , mas não faço , porque insistes em marcar presença só na minha cabeça , e não a meu lado .
Só no meu mundo , e não no teu .
Porque um dia , daqueles normais , poderíamos acreditar .
E eu , que tanto acredito , poderei esquecer.me que tenho que acreditar .


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Máscara

Sempre insisti em deixar todo este preciosismo de lado , na forte convicção de que o sentir nada teve a ver com o saber , mas sim com a ocasião . Já reclamava o tempo , severamente esquecido , que os dias são meras contagens , e os momentos são meras recordações . A ânsia de viver protegia todos aqueles vazios pouco imaginados por nós , mas deixados a descoberto em cada falha . As máscaras pouco fortes deixavam.nos inocentes , fracos e presos , sempre convictos que o nosso ser não passa de uma realidade , mas sim de um objectivo .
Juntava.se um sorriso , um olá mais prolongado , um abraço desviado ou dois dedos de conversa insultuosos , alargando a nossa falsidade a objectivos pouco claros e , por isso , vazios da nossa imagem . Aqueles vazios nunca verbalizados em amizades duradouras nem em intimidades loucas , com medo que deixem de ser vazios , e passem a ser um mar de mágoas .
O sorriso é um gesto falso . Aquele sorriso , desdenha.te em curiosidades múltiplas , que nem a tua ingenuidade o decifrará . Aquele sorriso satisfaz.te pela aparência , como uma máscara leve sobre cada um dos teus vazios . Não sabes quem eu sou , e nem eu quero saber . Adquiro o real medo da verdade , pela mentira que sabe tão bem . Tão cómoda , tão inocente , como todos aqueles sorrisos que me deixavam alegre , por fora . Um dia entrarás por detrás desta pele , e encontrarás outra , com mais enigmas que o meu ser , com mais dúvidas do que realidades , mais razões do que sorrisos .
Se um dia me olhares e criticares , acreditarei que não sabes quem sou . Se um dia me desviares o olhar , continuarei confiante no meu falso sorriso e na tua falsa razão . Sempre demonstraste o teu sorriso , e eu agradeci.te com o meu vazio ..
No fim de cada momento , o tempo soube sempre permanecer intacto mesmo por detrás de cada máscara . Soube permanecer vivo em cada memória por mim esquecida , soube proteger.se da ganância e do medo , e sustentar.se na vivência . Soube agarrar.se à falsidade e deixar.me presa no meio do meu vazio , navegando em ilusões por mim criadas e levadas ao extremo . O sorriso já não encanta , a verdade já não ganha coragem , o medo persegue.nos a cada dúvida .
Se um dia o medo me conquistar , a palavra não será lida em voz alta , não irá soltar.se do tempo , e tudo será o que eu sempre fui : o vazio . Aqui escrevo , e mesmo dentro desta máscara , ouve.me , encoraja.me , que as forças perdem.se . Solta.te , o eu dentro de mim , que já não sei quem tu és , nem quem eu quero ser .


sábado, 15 de janeiro de 2011

Prefácios

Sinto a fúria da recusa , o impulso da distância , a tua falsa palavra que corre nas minhas veias , como eco de um gesto perdido sobre mim .
Sinto a presença do teu perfume deixada junto à porta , num figurante rasgar do passado entre linhas .
Sinto a estrela , o teu brilho na minha dúvida , que paira como o muro que nunca aceitei , e a razão pelas marcas dos meus passos te recordarem o meu adeus .

Sei do decorrer , de segundos na antecipação dos sessenta minutos .

Conheço bem o passar dos dias ao lado da ofegante respiração que trazes , sempre que me queres escutar , e avisar da noite .
Ela que cai , suavemente , trazendo o infinito brilho da tua estrela , nossa estrela , a que cai e brilha , a que espanta , tu .
O eu no escuro , o eu perdido , o eu como pequena estrela , e o tu como infinito .

Sinto que o vento muda de direcção a cada vontade mais insistente .

O que nos leva a segui.lo sempre nos criou dúvidas , porque o erro existe .
Se cada passo fosse o certo , o vento não sopraria assim , e a dúvida não nos levaria a pensar que tudo gira como queremos que ele gire .
Podes imaginar a verdade no erro , eu prefiro sentir a vontade de o cometer , e de pensar que tudo não passa de um erro corrigido .

O esforço nem sempre é sinal de realização , como a tristeza nem sempre é sinal de fraqueza ou falha .

O caminho nunca se mostrou complicado quando o passo dado não tem medo de tropeçar , nem nunca foi fácil quando andamos em chão de vidro .
Arriscar não é coragem , é vontade de saber o desconhecido .

Pára , recomeça , interessa.te , foge , apaixona.te , define.te , encontra , cansa.te , desilude , acredita , e sente .

Se tudo isto pudesse ser um verbo , seria crescer e não viver , seria respirar e não perder .
Porque tudo o que queremos devia ser uma vontade , quando tudo não passa de uma conquista .

O sorriso é um gesto falso .

Aquele sorriso , desdenha.te em curiosidades múltiplas , que nem a tua ingenuidade o decifrará .
Aquele sorriso satisfaz.te pela aparência , como uma máscara leve sobre cada um dos teus vazios .
Não sabes quem eu sou , e nem eu quero saber .

Colecciona sentimentos , abandona medos e traições , junta alegria e coragem , contrapõe a sorte ao azar , abandona a falsidade .

Porque às vezes , nem sabemos quem somos .


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O lançar de dados

" Tu olhas para uma pessoa , uma pessoa que sabes que não é uma pessoa qualquer , porque o teu olhar fixa.se nela e quando ela olha para ti e sente o mesmo que tu , sentes que alguma coisa vai acontecer . Não sabes nada ainda , mas intuis , intuis com os teus sentidos , com o teu corpo e às vezes com o teu coração que aquela pessoa pode ter qualquer coisa para te dar , que não sabes o que é , mas sabes que um dia vais descobrir e que esse dia pode ser nesse momento , e é então que tiras os dados do bolso e os lanças para cima da mesa .
Quando nos interessamos por alguém , nunca sabemos no que vai dar . Lançamos os dados como quem os deixa cair quase por acaso e muitas vezes nem queremos saber quanto deram : um e um , dois e quatro, três e três , cinco e dois , é sempre um mistério , porque a sorte também manda na vida , manda mais do que queríamos e menos do que gostaríamos , por isso desconfiamos dela sempre que nos é favorável , mas aceitamos as suas traições como a ordem natural das coisas , por mais absurdas que sejam .
Os dados caíram quando levantaste o copo e eu vi no chão seis e seis, vi.te a apanhar os dados e a rir , ouvi a tua voz e quando começámos a conversar , percebi que os dados estavam certos .
Gostamos de tudo um no outro ; eu gosto da tua casa , da tua música , da tua forma desligada de olhar para o mundo , tardes inteiras a repetir em stereo os melhores sketches do Gato Fedorento , os passeios à beira mar de camisola de lã com capuz , as polaroids com legendas e a forma como te divertes com tudo o que te rodeia . E tu gostas da minha alegria de viver , do meu sarcasmo cirúrgico , de dizer sempre tudo o que penso , sinto e quero , mesmo quando não estás preparado para me ouvir .
Eu gosto de te conhecer e de te perceber , porque és diferente dos outros homens e tu gostas que eu te entenda melhor do que todas as mulheres . E gostamos de estar um com o outro ; à mesa , em casa , com amigos , sem amigos , com sono , sem sono , mas sempre perto quando estamos perto , mesmo que fiquemos longe quando nos afastamos .
Acredito que todos temos direito a ter sorte e que , quando alguém aparece na nossa vida de repente , ou é porque nos vai fazer bem ou é porque nos pode fazer mal . E eu vi.te com bons olhos desde o primeiro momento , achei que me ias ajudar a limpar a tristeza , que a tua presença quase imperceptível na minha vida seria como um bálsamo , uma música perfeita e harmoniosa , um dia ao sol , ou uma noite em branco , daquelas que nos fazem pensar que a vida está cheia de surpresas boas e que vale mesmo a pena estar vivo , só para as saborear .
Tu foste e és tudo isto , e ainda mais agora , que somos amigos ; entre nós não há pesos nem amarras e o silêncio não quer dizer ausência , apesar da ausência reinar nos nossos dias .
Quando lançamos os dados , nunca sabemos no que vai dar ; tu podias ser um assassino encapotado e eu uma neurótica disfarçada , mas tivemos sorte , porque somos duas pessoas normais , com coração , e dois ou três princípios que nos fazem estar bem com a vida e com os outros .
Só tenho pena de não ser dona do tempo , porque houve momentos que , se pudesse , teria vivido mais vezes ou mais devagar , como quem saboreia um chá de menta , ao fim da tarde , no largo da Igreja a ouvir os sinos . E como escrever é a melhor forma de falar sem ser interrompido , digo.te agora e sem rodeios , fica comigo mais uma vez , vem rir do mundo e adormecer nos meus braços , abrir o teu coração e sonhar acordado , vem ter comigo hoje , porque eu quero lançar outra vez os dados e aposto que vai dar seis e seis outra vez , porque os dados nunca se enganam e a amizade é o amor sem preço e sem prazo de validade . "


quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O que ele diz ..

Ela é assim . 
É pessoa de dentro e fora .
A beleza está na sua essência e no seu carácter .
Acredita em sonhos .
Mas quando sonha , sonha alto .
Está aqui é para viver , aprender , cair , levantar e seguir em frente .
É isso hoje ..
Amanhã , já se reinventará .
Reinventa-se sempre que a vida pede um pouco mais dela . 
É complexa , é mistura , é mulher com cara de menina ..
E vice-versa .
Perde.se , procura.se e encontra.se .
E quando necessário , enlouqueçe e deixa rodar ..
Não se dá pela metade .
Não é teu meio amigo nem teu quase amor .
Ou é tudo ou é nada .
Não suporta meio termo .
É tonta , mas não é burra .
É pura , mas não é santa .
É uma pessoa de riso fácil ..
E choro também .
Ama palavras , olhares e sorrisos .
Sabe tornar cada momento perfeito .
(..)
 
<3
 
Sabe o quanto significado tem para mim ..
 
 
 

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O dom feminino

"As mulheres aprendem a observar nos outros aquilo a que mais tarde chamam intuição. É uma qualidade quase exclusiva do foro feminino e é por isso que os homens que também a possuem chegam mais longe. A essa capacidade de antecipar a realidade, de ler no olhar uma subtileza, de interpretar a vontade e o medo nas batidas de um coração, os homens chamam-lhe instinto, as mulheres, intuição. É a intuição que diz a uma mulher que está a gerar uma criança mesmo antes de fazer o teste da gravidez, que indica os caminhos do coração quando a dúvida se instala, que lhe diz quando deve lutar por um homem ou desistir dele. É uma espécie de mapa interior, de guia invisível, de alarme adiantado à inevitabilidade da vida. A estes sinais, dados pelo acaso, por um centésimo de segundo de silêncio ou na troca furtiva de um olhar, é preciso interpretar o que sente e a partir daí perceber o que pode acontecer. Nunca acreditei em bruxas nem adivinhos, prefiro lê-los nas histórias do que vê-los ao vivo a deitar cartas ou a atirar búzios ao ar, até porque acredito que o futuro é bom exactamente pelo desconhecido que guarda, mas já acertei demasiadas vezes nas previsões que fiz para poder desconsiderar a minha intuição. O lado mau da involuntária omnisciência é conseguir cada vez menos que a vida me surpreenda, o que faz com que assista, quase de braços cruzados, a mudanças que não quero e nem sempre consigo aceitar. O lado bom é a antecipação de uma nova realidade e o tempo de preparação para enfrentar a tempestade que se avizinha, como fazem os habitantes das cidades por onde passam os furacões, trancando com tábuas a casa e o coração e esperando que passe depressa e provocando os mínimos danos possíveis. Vejo a intuição como um atributo da alma, um dom guardado entre o coração e a cabeça, para lá da inteligência e da razão. Uma espécie de voz acima da realidade, como um balão a gás quente que consegue ver mais longe do que o olhar alcança, um código de barras que se descodifica a ele próprio, um telescópio da anatomia dos sentimentos, porque tem muito mais a ver com o que se sente do que com o que se pensa, com o que se imagina do que com o que se vê, com o que se teme do que com o que se deseja, sentindo como certo aquilo que o entendimento ainda não captou. E é por isso que, quando o alarme começa a tocar, primeiro baixinho em tom de aviso, e depois, cada vez mais alto até me ensurdecer com a evidência que se aproxima, respiro fundo para ganhar forças e lembro-me que o futuro não é mais do que a projecção das sombras do meu passado, um lugar cómodo para arrumar os sonhos, no qual a imprevisibilidade e o mistério reinam e onde, talvez e apenas aí, a intuição descanse da sua sabedoria. Prefiro ter o dom da intuição a esperar placidamente pelo desconhecido, mesmo quando o desconhecido me traz todos os sonhos numa bandeja."

Margarida Rebelo Pinto


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